Projeto pretende revitalizar a cultura do algodão no RN
O Rio Grande do Norte guarda nas páginas da história o mérito de ter tido em seu território uma cadeia produtiva que era sinônimo de riqueza e renda, o cultivo do algodão. E não é exagero. Entre os anos de 1960 e 1980, no apogeu da atividade algodoeira, o produto era considerado o ‘ouro branco’ devido à imensidão de plantações esbranquiçadas, feito nuvens, que se via em solos potiguares e o volume de divisas gerado.
Estima-se que o estado já teve mais 500 mil hectares de pastos adensados com essa cultura, da qual se extraia a fibra, óleo da semente e até mesmo o rejeito servia de alimento para o gado. Uma realidade distante na linha temporal, desde que a praga do bicudo, um inseto devastador, abafou esses tempos áureos e pôs fim à atividade ao dizimar milhares de pastos.
O retrospecto, no entanto, serve de lição e iniciativas, diante da evolução cientifica e biotecnológica, pipocam para resgatar essa cultura. E uma das mais encorpadas vem de uma parceria entre o Sebrae no Rio Grande do Norte, a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa) Algodão e um gigante do varejo têxtil do país, o Grupo Guararapes, através do Instituto Riachuelo, que juntos buscam reverter esse quadro.
As três instituições se uniram para iniciar a revitalização da cultura do algodão no Rio Grande do Norte de forma técnica, ambientalmente sustentável e com absorção da produção a partir da agricultura familiar. Essas são as bases do Projeto para Desenvolvimento e Resgate da Cultura Algodoeira. Uma ação que envolve 63 agricultores instalados em municípios da região Seridó, principalmente das cidades de Acari, Caicó, Carnaúba dos Dantas, Cruzeta, Jardim do Seridó e São José do Seridó.
A proposta do projeto é fomentar a produção do algodão no sertão norte-rio-grandense, especificamente nessa região, e, ao mesmo tempo, oferecer suporte técnico, capacitações, consultorias e escoamento da produção, gerar negócios para o produtor rural e incremento de renda, como nortes para o resgate da atividade, que já foi uma das principais bases econômicas do Rio Grande do Norte.
A iniciativa faz parte do projeto Agro Sertão do Sebrae e é financiada pelo Instituto Riachuelo, que visa incluir produtores da agricultura familiar na cadeia produtiva da moda, através do cultivo de algodão agroecológico e orgânico.
Valor agregado e novos produtos
De acordo com a gestora do Projeto de Orgânicos do Sebrae-RN, Sergina Fernandes, pelas regras do convênio, a Embrapa Algodão fica responsável pelo repasse de conteúdos técnicos para os agrônomos credenciados pelo Sebrae e estes passam a orientar e acompanhar os agricultores cadastrados na construção de um sistema de produção agroecológico e orgânico. “O projeto está estruturado em uma metodologia de aprendizagem e de pesquisa participativas. Isso vai facilitar a formação dos produtores a respeito do cultivo e que novas tecnologias cheguem mais rápido aos agricultores”, explica Sergina.
Após capacitação dos consultores credenciados por parte da Embrapa Algodão, as técnicas serão transmitidas aos participantes com assistência técnica especializada, desde o plantio e prevenção de pragas e doenças até a colheita, cuja produção será destinada a uma empresa de atuação nacional. A aquisição de toda a produção deverá ser transformada em fios com certificação orgânica, material diferenciado e com valor agregado ao mercado, e chegar ao varejo têxtil em forma de tecidos. As prefeituras dos municípios envolvidos no projeto também entram na parceria, oferecendo meios para o corte de terras das famílias participantes.