A Universidade de Brasília (UnB) decidiu, na sexta-feira (7/6), conceder um diploma acadêmico post mortem a Honestino Guimarães, estudante de geologia que desapareceu em 1973, durante a ditadura militar, e nunca teve o corpo encontrado.
A decisão foi anunciada na reunião do Conselho Universitário da UnB, pelo decano de Ensino de Graduação e membro do conselho, Diego Madureira, que avaliou o parecer. “Honestino Guimarães foi um notável líder estudantil cuja trajetória se entrelaça profundamente com a história da Universidade de Brasília e a luta contra a ditadura militar”, diz um trecho do parecer apresentado na reunião desta sexta.
(Confira a íntegra do documento)
O pedido requeria a readmissão de Honestino na universidade, uma vez que ele foi expulso durante a ditadura, e a concessão de créditos remanescentes das últimas aulas que faltavam a ele para completar o curso de geologia.
A reitora Marcia Abrahão classificou a entrega do diploma como uma “reparação”. Formada em geologia pela UnB, ela se emocionou ao falar sobre a aprovação da decisão. “Nós da Universidade de Brasília temos esse compromisso histórico com a verdade, não só a reparação ao Honestino, mas com tudo o que ele representa. Eu, como geóloga formada na Universidade de Brasília, tenho também esse compromisso com os meus colegas geólogos e com um colega que seria um brilhante geólogo e que deixou de se formar”, afirmou Márcia.
Parte da história
Honestino foi o primeiro colocado no primeiro vestibular para geologia realizado na UnB em 1965. Além de estudante do curso, ocupou o cargo de presidente da Federação dos Estudantes da UnB, em 1968. No mesmo ano, foi preso na invasão militar à universidade, solto meses depois e expulso da federal.
Em 1973, o líder estudantil foi sequestrado, aos 26 anos, e nunca mais visto. A confirmação pública da morte dele ocorreu em 1996. O corpo segue desaparecido.
Para o professor Welitom Rodrigues Borges, diretor do Instituto de Geociências (IG), o legado de Honestino vai além do curso dele na universidade. “A luta dele é um exemplo de luta para todas as pessoas. Ele é visto como um símbolo de luta.”
Símbolo para os estudantes
Por muitos anos, Honestino foi um líder no movimento estudantil brasileiro. Ao som de “Honestino presente! Hoje e sempre!”, membros do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UnB, que leva o nome do militante, colocaram o auditório de pé e, com palmas a ecoar, celebraram no momento da concessão do diploma post mortem a uma figura tão representativa na luta estudantil e a favor da democracia.
Um dos diretores da atual gestão do DCE, André Doz afirma que, para eles, “Honestino tem uma importância fundamental”. “Ele é aquilo que simboliza o movimento estudantil da UnB”, frisou.
Millena Moraes, diretora de Acessibilidade e Inclusão no DCE da UnB, afirma que os movimentos estudantis devem lutar e ser resistentes assim como Honestino. “Ele deu a sua vida pelo movimento estudantil e mostrando que a pauta da educação cada vez mais precisa avançar em prol dos estudantes PcD, para que eles possam ingressar na universidade. Honestino também queria isso”, pontuou.
Raissa Regina, uma das diretoras do DCE, pontuou ainda que o diretório é batizado com o nome de Honestino Guimarães não por formalidade e, sim, por ele ser um modelo representante e exemplo para todos os membros do DCE. “Hoje, cada canto dessa universidade grita por Honestino. Um pedaço da história dele está aqui. Honestino está pulsando pela UnB e a gente pulsa por estar nesse movimento unido e vivo”, finalizou.
Do Correio Braziliense