O Território KATU Digital é um projeto de formação audiovisual direcionado aos potiguaras da Comunidade Indígena do Katu. E ainda prevê a aquisição e instalação de um núcleo de equipamentos: câmera fotográfica, lentes, gravador, som, equipamento de drone e acessórios. O Projeto é idealizado pela produtora BOBOX Produções em parceria com a ORI Audiovisual e o Cacique Luiz Katu, liderança indígena da Comunidade e tem o patrocínio da COSERN e Instituto Neoenergia através do Programa Câmara Cascudo e Governo do Estado do Rio Grande do Norte.
O Território KATU Digital lançado no dia 13 de maio segue com atividades permanentes até o final do mês de julho, com as oficinas de cinema: Introdução ao Cinema e Roteiro (com Kennel Rógis), Direção de Fotografia (com Damião Paz Pixoré e Rodrigo Sena), Oficina de Operação de Drone (com Thamise Cerqueira), Oficina de Som (com Gustavo Guedes) e Oficina de Produção (com Arlindo Bezerra), e Oficina de Edição e Montagem (com Wallace Santos).
O objetivo principal é que esta iniciativa impulsione os alunos na qualificação profissional com um direcionamento ao mercado de trabalho para que, assim, possam contar suas histórias e seguirem em um novo caminho profissional. Um projeto cinematográfico desta natureza reforça, através da linguagem audiovisual, os problemas ambientais que o território atravessa; sendo um espaço de voz coletiva e ampliação de discurso da comunidade do Katu.
Os 15 alunos selecionados dentre mais de 40 inscritos da comunidade para a formação do Núcleo receberão uma bolsa mensal de R$ 400,00 durante o período de três meses totalizando uma bolsa de R$ 1.200,00 que irá contribuir em sua renda ao longo desse processo formativo. Ao final do projeto, os equipamentos serão doados para a comunidade e ficarão à disposição dos jovens para que possam produzir e construir novos desdobramentos e narrativas.
A relação da equipe do projeto com a comunidade do Katu teve início em 2007 quando o diretor Rodrigo Sena esteve presente para a produção de fotografias em comemoração ao Dia Nacional dos Povos Indígenas. Dez anos depois, o cineasta retornou à comunidade, já com o produtor Arlindo Bezerra, da BOBOX Produções, para a produção do curta-metragem “A Tradicional Família Brasileira KATU”, que recebeu o prêmio de Direitos Humanos no Festival de Brasília. Em 2020, foi realizado o projeto “Cinema em Debate – Katu” que circulou por escolas públicas com o Cacique Luiz e o diretor Rodrigo Sena; em 2021, também realizaram “Antes do Livro Didático, o Cocar”, que venceu o Edital Conexão Juventudes e foi exibido no Curta Kinoforum.
O cacique, que assinará a coordenação didática e pedagógica do projeto comentou sobre a repercussão dos trabalhos já realizados: “A quebra de estereótipo foi muito grande. O acesso a espaços que não tínhamos aconteceu a partir da exibição destes filmes. Conseguimos ocupar lugares que não eram possíveis. Os filmes permitiram dialogar com políticas públicas e ter uma maior credibilidade na nossa fala, na nossa luta, no nosso dia a dia; inclusive para garantia e demarcação do nosso território. Com essa visibilidade, recebemos convites para falarmos da nossa cultura e do nosso povo”.
O Núcleo está instalado na Escola Indígena Municipal João Lino Dias, espaço central e democrático na comunidade, em uma relação de parceria com o Município de Canguaretama: “Teremos visibilidade com essas oficinas e os jovens e a comunidade terão acesso aos meios audiovisuais. Isso será muito importante para usar esse conhecimento para divulgar nossa cultura e a luta do nosso povo na mídia e nas redes sociais”, disse o Cacique Luiz Katu, que além de líder comunitário, é professor de etno-história.
Sobre a importância dos estudantes nas oficinas, completou: “Com esses jovens empoderados, que vão produzir seus próprios materiais audiovisuais, quebraremos a invisibilidade. Esses estudantes vão nos substituir na luta. Temos espaços de liderança, dos pajés, de ensino, de saúde, de educação; e eles precisam ocupar esses lugares. E, claro, o audiovisual colabora muito para esse preparo, já que os jovens estarão prontos para dialogar”.
O cineasta Rodrigo Sena ressalta a importância de ampliar o olhar destes jovens sobre as potencialidades de seu território: “O documentário que será realizado retratará a questão da identidade indígena. Com o uso da linguagem cinematográfica, terão a oportunidade de produzir suas próprias narrativas e histórias, além do reconhecimento de suas raízes ancestrais nos relatos”, finalizou.
Durante o Projeto os alunos desenvolverão um filme com direção de Rodrigo Sena e participação e voz ativa de todos os alunos e alunas do Núcleo. Sobre isto complementa Arlindo Bezerra, produtor do Território KATU Digital: “é importante que neste processo de aprendizagem os alunos vivenciem uma experiência prática de concepção, produção e gravação de um filme. É o momento deles construírem um entendimento mais sólido de como funcionam os mecanismos cinematográficos”.