A pandemia do coronavírus afetou muitos negócios e um dos setores prejudicados foi o de eventos, pela paralisação das programações por dois anos. Um dos afetados foi Willames Pereira de Azevedo foi um desses empreendedores que teve de paralisar as atividades negócio após 30 anos, no município de Ipueira (RN), sem possibilidade de seguir com os serviços de sonorização e estrutura armada para eventos e shows. Porém, o que para muitos foi um momento de falência e desespero, para Willames foi de oportunidade, pois enxergou o momento certo de mudar de negócio e partiu para a produção de carvão vegetal.
“30 anos foi (um tempo) muito bom e eu não posso reclamar. Eu fiz amizades e boas parcerias. Eu já tinha vontade de sair (do setor de eventos) por causa da correria daquele negócio. E aí, com a pandemia, que muitas empresas declararam falência, eu já tinha o projeto do carvão vegetal. Tem pouca gente fazendo, tenho pouco concorrentes e a maioria produz de forma muito rudimentar, sem o cuidado com o meio ambiente”, destacou Willames.
O ipueirense relata que tudo começou com uma pesquisa de mercado, que mostrou ser um negócio promissor. “Eu comecei a pesquisar no comércio, comecei a comprar o carvão que era produzido aqui e avaliar. Eu tinha uma noção básica sobre o carvão vegetal e parti para pesquisar na internet. Busquei saber quem eram os principais fornecedores na região e as tecnologias que utilizavam”, observa.
Porém, foi a partir do Inova, projeto desenvolvido em Ipueira pelo Município em parceria com o Sebrae no Rio Grande do Norte, que o empreendedor fez seu negócio avançar. Nesses dois anos, ele teve acesso a consultorias nas áreas de licenciamento ambiental, registro de patentes e acesso ao mercado.
Um dos diferenciais do produtor foi aproveitar os subprodutos do carvão que são descartados em outras carvoarias, prejudicando o meio ambiente. “O impacto ambiental é muito grande com esses resíduos gerados. A gente conseguiu solucionar isso retirando a umidade da madeira e diminuindo os gases da carbonização, a partir da coleta do extrato pirolenhoso e o alcatrão. A gente já consegue diminuir em 60% a quantidade de gases emitidos a partir de um sistema desenvolvido por nós mesmos” explica Willames. O extrato pirolenhoso é um produto utilizado na agricultura, sendo utilizado também na pecuária como pesticida, carrapaticida, entre outras funções.
Outro cuidado do empreendedor é com o resíduo do pó do carvão. A carbonização de um forno produz três tipos de carvão. Além do carvão grosso, que é comercializado para aquecimento de fornalhas e de padarias, Willames produz um carvão especial fino, que é comercializado em embalagens menores e mais utilizado para churrasco, e os briquetes de carvão, muito comercializados para quem mora em apartamento devido ser o que produz menos fumaça e tem um teor muito alto de temperatura e durabilidade.
O mix de produtos também inclui o biochar, um carvão totalmente triturado muito utilizando em jardinagem.
“Esse produto passa por todas as análises técnicas de laboratório. O biochar tem o poder de inibir e combater fungos, principalmente em cactos. Quando você pega uma terra pronta para plantar num vaso de apartamento, com certeza virá com algum odor do esterco. O biochar também serve para eliminar os odores, além do nutriente que vai ajudar na planta”, destaca Willames.
A partir do Inova, o produtor tem 90% de subsídio nas consultorias, um investimento do Sebrae com a prefeitura de Ipueira. “Eu não posso esquecer do Sebrae porque foi a luz no fim do túnel. Que alertou que eu tinha que partir para a legalização”, enfatizou o empreendedor.
Com as consultorias, Willames está começando a patentear as máquinas que ele mesmo desenvolve. Esse é um outro empreendimento do ipueirense: pretende produzir e comercializar outras carvoarias máquinas similares as que ele criou para a sua produção. Uma das máquinas faz o empacotamento e separação do carvão. A outra tritura o resíduo da separação que não é utilizado como carvão e produz o biochar e os briquetes.
O próximo passo do negócio é a ampliações dos fornos. “Nesses próximos cinco anos a gente quer criar um complexo concentrando os fornos de produção de carvão, o empacotamento, a produção dos briquetes, de biochar e a oficina de fabricação de máquinas. Com isso eu espero dobrar a geração de emprego em meu município”, diz Willames.
Outro cuidado do produtor é com a compra da madeira legalizada para ser a matéria prima para o carvão. A produção de Ipueira já está chegando a três estados: Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba
Agência Sebrae/Diego Vale