As cartas trocadas entre Mário de Andrade e Câmara Cascudo revelam não só a bela amizade entre os dois, mas um pouco da formação da cultura brasileira. A reunião de 20 anos da história desses dois personagens não poderia ser desinteressante para a história da literatura do país. Por isso, o Núcleo de Arte e Cultura (NAC) realiza o encontro Cascudo e Mário – comemorações do aniversário de 100 anos da semana de arte moderna, que acontecerá no teatro laboratório Jesiel Figueiredo – Deart/UFRN, nos dias 20, 21 e 22 de setembro. O projeto modernista empreendido pelos escritores será o tema das discussões do evento, coordenado pela Professora Elisa Belém.
Marcos Antonio de Moraes, professor de literatura brasileira e pesquisador do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), dedicou-se a organizar cartas escritas pelos dois autores brasileiros, dando vida à obra Câmara Cascudo e Mário de Andrade: Cartas, 1924-1944 (Global 2010). Andrade diz sentir-se “alegrão ao receber cartas de Cascudinho”, seu grande amigo, Luís da Câmara Cascudo. “Mano Mário”, por sua vez, era tão parceiro do autor que se tornou padrinho do seu filho Fernando Luís e foi carinhosamente chamado de padrinho Macunaíma. É certo que uma carta sempre vem coberta de sensações. Autor e leitor imprimem sentimentos profundos e reais, talvez por isso Maria Bethânia, referenciando o poeta Fernando Pessoa, canta que só as criaturas que nunca escreveram cartas é que são ridículas.
Durante a análise das correspondências de Luís da Câmara Cascudo (Natal, RN: 1898 – 1986) e Mário de Andrade (São Paulo, SP: 1893 – 1945) nota-se que um grande evento para a construção da literatura nacional foi a Semana de Arte Moderna, que repercutiu durante décadas como um movimento que perpassou a arte e a literatura. É por meio das cartas que Mário de Andrade, inclusive, expõe seu interesse no Norte e Nordeste brasileiro. O autor de Macunaíma buscava pesquisar a arte e quaisquer manifestações culturais dessas regiões.
Em 2022, a Semana de Arte Moderna completa cem anos. O encontro ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922, e reuniu artistas e intelectuais, os quais apresentaram suas artes buscando novas formas de expressão. Tendo como referência o movimento das vanguardas artísticas europeias, escritores como Oswald de Andrade e Mário de Andrade, dentre outros, questionaram formas, cores, temas e estéticas para a elaboração e crítica da literatura e das obras de arte até aquele momento no Brasil.
“Numa época em que havia uma série de limitações quando comparada à atualidade com o largo uso da Internet, suas cartas mostram-se como verdadeiras preciosidades. Nessas, os dois escritores compartilharam projetos, comentaram seus livros, buscaram fontes e dados para pesquisas e, sobretudo, revelaram um desejo de aproximação entre regiões, outrora tão distantes” afirma a coordenação. O evento é gratuito, mediante retirada de senhas com 30 minutos de antecedência no Teatro Laboratório Jesiel Figueiredo, DEART/UFRN.
A programação do evento está descrita abaixo: